A alma exprime o natural sobrenaturalizado, isto é, dum modo original, porque a alma, oriunda de tudo, é senhora de tudo, independente. Sendo todas as coisas, é outra coisa. É todas as árvores e a Árvore. Quando se exalta e canta, num poeta, pode atingir a Divindade, vence o tempo e o espaço, as duas barreiras tenebrosas. Mas o sábio pretende observar o mundo, com uma isenção perfeita, surpreender a realidade limpa de detritos humanos, materialmente pura. Deseja aniquilar a sua personalidade criadora, em benefício do senso crítico. Conseguirá ele, um dia, isolar-se, por completo, dessa personalidade contagiosa? e, distanciado de si mesmo, falecido em si mesmo, contemplar o universo, com uns olhos de caveira inteligente?
Teixeira de Pascoaes, in 'O Homem Universal'
12 novembro 2006
O Poeta e o Sábio
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